33 HOMENS DEBAIXO DA TERRA, DE UMA MINA CHILENA PARA OS PALCOS
João Carneiro
O desabamento de uma mina no Chile deixou vários mineiros soterrados durante dois meses. Alex Cassal, Felipe Rocha e Paula Diogo inspiraram-se nessa história para fazer um musical obscuro que apresentam no São Luiz, em Lisboa.
Em 2010, uma mina desabou no Chile. Trinta e três homens ficaram debaixo da terra durante mais de dois meses. Acabaram, incrível e felizmente, por ser salvos. Sabem-se alguns pormenores daquela sinistra estadia subterrânea: a comida que havia era suficiente, em tempo normal, para dez pessoas, durante dois dias. Depois, até isso acabou. Havia água, mas de péssima qualidade. O tempo ficou diferente, num lugar em que não há diferença entre dia e noite; o convívio, a coabitação forçada, tudo foi refeito, tudo passou por etapas críticas, tudo foi sendo resolvido, por uma simples razão: a sobrevivência.
Alex Cassal há anos que tinha vontade de fazer alguma coisa sobre esta história, passá-la ao teatro. O “buraco” passou a ser uma figura decisiva, presente desde o início, e qualificada nas suas mais negativas facetas e conotações. Mas aparece, também, aquilo que a descida e a clausura, em termos simbólicos, desencadeiam no campo da imaginação e da fantasia. E veio a música, como desenvolvimento da linguagem falada, em diversos registos, tal como a dança, que foi nascendo a partir dos movimentos dos artistas. A obra tematiza, ainda, uma ideia importante: como é que, sobrevivendo a uma experiência deste tipo, se refaz a noção de “uma primeira vez”? Ou melhor, a noção de “uma primeira vez, de novo”.
Publicado no Jornal Expresso em 03/06/2022.
33 MEN UNDERGROUND, FROM A CHILEAN MINE TO THE STAGE (sample)
João Carneiro
For years, Alex Cassal had wanted to do something about this story, to transpose it to the theatre. The “hole” became a decisive image, present from the beginning, and depicted in its most negative facets and connotations. But there is also what descent and confinement, in symbolic terms, trigger in the realm of imagination and fantasy. And then came music, as a development of spoken language, in different styles, as well as dance, which was born from the artists’ movements. The work also thematises an important idea: when one survives this kind of experience, how is the notion of “a first time” remade? Or rather, the notion of “a first time, once again”.
fotos @João Tuna