SUBTERRÂNEO, UM MUSICAL OBSCURO | Antro Positivo

Há quem defenda, o mais simples é o mais próximo da verdade. Não que o simples seja a razão definitiva das coisas. Mas a simplicidade em essência faz do objeto ao qual se volta um tanto improvável, e, por assim tomado, ser despercebido de sua ocorrência. A premissa experimentada por diversas correntes e intelectuais pode ser aproximada dos acontecimentos naquilo tratado por inesperado. Uma pandemia imaginada há anos, um descontrole ambiental anunciado há décadas, uma guerra a qual se recusou a dimensão de realidade. Os acontecimentos estão aí tanto quanto já estavam. Não os perceber ou cercá-los de improbabilidades é negar a simplicidade do óbvio. Os mais recentes são apenas os de hoje, e a eles se juntam a complexidade de nossa época soterrando-nos em nossas recusas, cegueiras, silêncios e estupidez. Seja como for, estamos aqui. E a busca por realizar o aqui é o interesse maior de SUBTERRÂNEO. Buracos, repetem insistentemente como quem quer tirar da falsa simplicidade da explicação a verdade a ser assumida. O agrupamento de indivíduos que se forma na escuridão não chega a constituir uma comunidade. Usam-se, uns aos outros, enquanto recurso de sobrevivência, estimulando-se a criar fugas aleatórias. As músicas desse musical servem para subverter a lógica do isolamento em uma espécie de alegria desconhecida que almeja reencontrar aquilo que ainda lhes possa existir de vida e humanidade. Trata-se de um espetáculo fractal, em que os instantes são a totalidade e o inteiro da peça é parte da realidade expandida para além da ficção. O teatro revelado o improvável mais simples a acontecer em tempos de obscuridade, por sua condição de figurar o indizível dos pensamentos e apresentar o inominável das sensações mais escondidas. A nova soma entre Má-Criação e Foguetes Maravilha expõe a ambos feitos suas sombras na caverna de Platão. Uma é a outra. E o teatro partilhado dá-se a ele e a nós como fogo. Só que, dessa vez, não há realidade ao sairmos da caverna. Há o buraco real em si em sua aparente infinitude.

Ruy Filho para a plataforma ANTRO POSITIVO.

Holes, they insistently repeat, as if trying to extract truth from the false simplicity of an explanation. The group of people formed in the darkness doesn’t quite amount to a community. They use one another as a survival resource, encouraging each other to create random escapes. The songs in this musical act in a way that subverts the logic of isolation in a kind of unknown joy that strives to rediscover whatever life and humanity there might still be. It is a fractal show, where the moments are the totality, and the whole of the play is part of the reality expanded beyond fiction. Theatre reveals the simplest unlikely that happens in times of obscurity, by depicting the unspeakable of thoughts and presenting the unmentionable of the most hidden sensations. The new creation by Má-Criação and Foguetes Maravilha displays them as shadows in Plato’s cave… Only this time there is no reality when we leave the cave. There is the real hole in its seeming infinitude.


fotos @Estelle Valente