CELESTIAL BODIES | Publicação – preview VI

Ainda assim, a vida por Gisela Casimiro

Ao ser convidada para acompanhar a residência artística Celestial Bodies, curada por Paula Diogo de Carvalho e Lígia Soares, a minha resposta inicial foi de hesitação e medo. Não apenas por uma questão de constrangimentos de tempo, escassez de produtividade e um estado de assoberbamento constante, mas por um instinto (falso ou não, necessário ou não) de auto-protecção, alimentado pela falta de hábito de convívio diário com grupos de pessoas que não conheço de todo, ou conheço mal, no fundo quaisquer pessoas que não as mesmas três ou quatro que via sempre por força de viver com elas ou serem minhas parceiras de exercício físico. Estava desde Março de 2020 a trabalhar a partir de casa, tendo sido grande parte desse tempo passado ao computador em reuniões que, antes, duravam quinze e agora se prolongavam até aos trinta e cinco, sessenta minutos, em interacções forçadas e zooms além-trabalho – mas também de trabalho – que iam até às três horas de duração. Seria então à partida expectável, e mesmo natural, uma alegria imediata pela oportunidade de olhar as pessoas nos olhos, tocar nelas eventualmente (auto-testes covid e álcool gel a rodos, claro) e ser mais do que meros pixéis para alguém. 

Sou uma pessoa tão sociável quanto solitária, que viveu em três casas diferentes desde o início da pandemia, uma delas sozinha (a casa onde já habitava antes do confinamento) e, nas restantes, com diferentes pessoas e diferentes níveis de restrições pandémicas. Confiar, tocar, coabitar tornaram-se verbos de difícil praticabilidade. Ao ser dispensada de um trabalho a tempo inteiro e nada artístico que me empregou durante dezoito meses, pude dedicar-me exclusivamente à criação, um processo maioritariamente solitário (contrastando com as várias performers, bailarinas e artistas multidisciplinares do grupo), que vi tornar-se também cada vez mais burocrático e menos artístico, na verdade. Não sabendo o que esperar, apenas o que recear, aceitei ser um corpo celeste, o que quer que isso significasse, juntamente com várias artistas mulheres de diferentes nacionalidades e áreas. O desafio era estar, participar, ouvir, ver, conviver, aprender, ensinar: uma residência pela residência, portanto, que se dividiu entre espaços interiores e exteriores, entre a margem norte e a margem sul do rio Tejo, do Vale da Amoreira a Lisboa. Sem a pretensão de apresentar um espectáculo ou mostra finais, a intenção era criar um espaço seguro de convívio no feminino. Infelizmente, este feminino limitou-se ao biológico, sem a participação de pessoas trans, mas incluindo pessoas racializadas e queer. Não obstante, a residência, iniciada na Islândia, continua e, como tal, irá certamente encontrar lugar para um feminino mais feminista e interseccional. É, como quase tudo, uma questão de tempo.

Recentemente, Luís Pedro Nunes escreveu no Expresso que “As mulheres precisam de tempo. E de aprender a fazer nada com ele. Os homens sabem atingir o zero absoluto com facilidade. Raramente vejo uma mulher a exercer a nobre arte da não existência.” Viver intencionalmente é uma máxima que deve ser aplicada a todos os aspectos da nossa vida, independentemente do género. Esta é, por um lado, uma obrigação de cada um para consigo mesmo. Por outro, a epítome da intimidade poderia ser encontrar alguém com quem se pode e consegue não fazer absolutamente nada, como partilhar um silêncio confortável enquanto se ocupa o mesmo espaço, sem julgamento, sem entretenimento alheio. O maior privilégio do nosso tempo será talvez não ter de pensar em algo, simplesmente por não nos afectar, não nos limitar, não ser parte do nosso percurso de vida. Um dos maiores desafios talvez seja aproximarmo-nos de nós mesmos, em verdadeira conexão e conhecimento. “Nós mesmos” sem filtros, sem o propósito da audiência e as suas exigências. Ao longo da residência, dei por mim a não escrever, a não fotografar, a não falar, por vezes com algum esforço, forte como é a necessidade de se mostrar trabalho, o que no fundo não deixava de ser o que eu estava ali a fazer. A experiência lembrou-me de quando era pequena e ia à Moita visitar a minha madrinha e o seu então único filho, e da sua receita de tarte de amêndoa. Deu-me a conhecer o retrato do agora jogador da NBA Neemias Queta, cuja parede em construção visitámos diariamente durante a primeira semana. Lembrou-me ainda da única casa com jardim na qual vivi, um terreno desorganizado com figueiras e oliveiras onde plantei inúmeras aromáticas e flores, de onde resultaram muitas saladas com figos, muitas limonadas com hortelã (trocava os figos pelos limões de outros amigos) e muita limpeza de entulho, não só o tangível – plástico e tijolos com fartura – mas sobretudo o que me ocupava a cabeça. Esta foi a minha meditação durante muito tempo, ficar no quintal com os gatos da vizinha do lado, que vinham para a minha parte apanhar o sol que ela ocultava na sua pequena selva. Não esqueço, por entre o mundano e o quotidiano, o que me contou uma das muitas paredes falantes que vimos: Tu és Deus. Faz sentido, numa terra onde um cemitério, uma horta comunitária e um campo de futebol convivem pacificamente lado a lado. Faz sentido, quando nos descalçamos para sentirmos melhor a terra e nos abrigarmos mais debaixo do mesmo céu.

Segundo o filósofo André Barata, “O mais revolucionário a fazer é: começar a parar.” A ansiedade, doença do nosso século, é o resultado de uma necessidade, de um impulso diário para pensar demasiado acerca de tudo e de todos, questionando as nossas escolhas e, sobretudo, ansiando por algo que não está de modo algum nas nossas mãos. O que pode ser uma imposição num local de trabalho castrador e capitalista pode, por outro, ser uma aproximação à libertação num espaço seguro. Tenho uma amiga que me diz, frequentemente, que é a pessoa mais antiga que eu conheço, ela que ainda nem trinta anos tem. Diz-me isto desde que nos conhecemos. No entanto, o que seria realmente ser uma pessoa idosa, para além de gostar de estar em casa, fazer poucas refeições e fazê-las cedo, passar tempo consigo? Sem grandes impedimentos de saúde, ser-se idoso seria também estar em movimento por saber que parar seria deixar entrar o tempo impiedoso, a dúvida, o bafio, a solidão. No início da pandemia, uma das grandes discussões era sobre a ousadia dos idosos em continuarem a sair de casa em vez de se protegerem e ao resto de nós, eles que passaram por ditaduras, guerras, nascimentos, mortes, pestes e outros. Pouca empatia houve pelo facto de que, ao ficarem em casa, muitas destas pessoas deixariam de saber umas das outras e, logo deixariam de ter o que as movia: o convívio, as jogatanas em parques públicos e os percursos do início ao fim num autocarro ou eléctrico onde se cumprimentam pessoas pelo próprio nome ou por outro que afectuosamente lhes atribuímos, sem nunca errar realmente. Não estar sob o jugo da imposição do trabalho, não ter já nada a provar e sobretudo não ser aqueles de quem a sociedade espera algo a não ser que desapareçam, eventualmente, sem fazer alarido, sem dar muito trabalho ou despesa, é também o que permite às pessoas de mais idade lutarem ainda e até ao fim pela sua independência, pela sua alegria, pela sua paz, pelas suas famílias escolhidas e atribuídas. Como diz ainda Barata em E se parássemos de sobreviver?: “A intimidade tem um tempo próprio, que é de retirada da exposição ao mundo e, por isso, de suspensão da exposição e de deslocamento para lugares que evocam um regresso, como o regresso a uma morada antiga, o regresso a alguém, o regresso a um lugar de regresso, onde se fez um começo de sentido ou, pelo menos, se fixou um começo de sentido. Este tempo da intimidade, de suspensão, encontra hoje mais dificuldades em ter lugar.” Há uma sabedoria, uma resiliência revolucionária na lentidão, no processo, em simplesmente saber estar e permitir-se ser. É preciso saber encontrar o lugar perfeito de equilíbrio entre não fazer nada e fazer demasiado por se estar ainda viciado em mostrar que algo está a acontecer, em entreter. Numa conversa, há vários meses, ouvi a curadora Ana Cristina Cachola falar do direito à não-participação, um conceito que não mais me abandonou e que, por vezes, tenho dificuldade em reclamar para mim. Creio que funciono melhor quando sou estóica do que quando me retiro para o nada, esperando que ele me resolva tudo. O segredo está em não passar a existência a aguentar-se, a sobreviver, pois viver a vida toda em modo luta é perder a própria vida. Como reforça o também filósofo Byung-Chul Han, “A aceleração actual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar a trabalhar; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

No conto A Viagem, de Sophia de Mello Andresen, cativa-me esta passagem: “– Ah! – disse ela –, mesmo perdida, vejo como tudo é perfumado e maravilhoso. Mesmo sem saber se jamais chegarei, apetece-me rir e cantar em honra da beleza das coisas. Mesmo neste caminho que eu não sei onde leva, as árvores são verdes e frescas como se as alimentasse uma certeza profunda. Mesmo aqui a luz poisa leve nos nossos rostos como se nos reconhecesse. Estou cheia de medo e estou alegre.” Apesar da inevitabilidade do abismo, as paragens ao longo do caminho são já muito semelhantes ao lugar para onde se dirigem esta mulher e o seu companheiro de viagem. Mesmo chegados ao fim, ela não desiste de tentar acreditar que, se chamar, alguém responderá do outro lado. Algumas actividades como meditar, passar tempo na natureza, rir, dançar, desacelerar e estar em contacto com a comunidade, beneficiam a nossa saúde física e espiritual. Por um lado, ao início, estes rituais conscientes que deveriam acalmar-nos trazem-nos uma ansiedade por não estarmos a produzir, a criar, a sofrer… por outro, assim que começam a instalar-se, também um alívio nos envolve e tranquiliza. Afinal, o mundo continua a acontecer e a resolver-se, mesmo se estivermos em modo voo.

A residência Celestial Bodies foi, para mim, um chamamento a sair da zona de conforto, de mim, de casa, da cidade. Ao mesmo tempo, significou voltar a ter companhia para o almoço todos os dias, gargalhadas infinitas e o fechar de ciclos com pessoas que, sem querer mas porque tinha de ser, haviam cruzado o meu caminho um ano antes, fazer caminhadas em silêncio, construir vizinhança durante cinco ou dez minutos com quem ali vive e pára no caminho para nos cumprimentar e ficar a conversar, como se quisesse realmente saber, fazer um elefante de barro, confiar em alguém para me dirigir enquanto danço ou me movo livremente, no chão ao sol e à brisa, de olhos fechados, perder a vergonha, corar, aprender práticas e exercê-las, dialogar e ouvir dialogar em várias línguas. Estar parada e ainda ou sobretudo assim, viva. Ainda assim, a vida.

Referências:

  • Andresen, Sophia de Mello Breyner (1970). Contos Exemplares. Portugália. Lisboa.
  • Barata, André (2018). E se parássemos de sobreviver? Pequeno livro para pensar e agir contra a ditadura do tempo. Documenta. Braga.

And still, life  by Gisela Casimiro

When I was invited to join the artistic residency Celestial Bodies, curated by Paula Diogo de Carvalho and Lígia Soares, my initial response was one of hesitation and fear. Not only because of time constraints, low productivity and feeling constantly overwhelmed, but also because of a (false or not, necessary or not) instinct of self-preservation, fed by a lack of habit of daily contact with groups of people I don’t know at all, or hardly know, basically anyone other than the same three or four people I always see because I live with them, or they are my exercise partners. I had been working from home since March 2020, much of that time having been spent at the computer in meetings that used to last fifteen minutes and now stretched to thirty-five, sixty minutes, in forced interactions and non-work zoom calls – but also work calls – that lasted up to three hours. It would be expected and even natural for me to feel an immediate joy at the opportunity to look people in the eye, to touch them maybe (covid self-tests and hand sanitizer abounded, of course) and be more than mere pixels for someone.

I am sociable person as much as a solitary one; I have lived in three different apartments since the beginning of the pandemic, in one of them alone (the place where I already lived before lockdown) and in the others with different people and different levels of pandemic restrictions. To trust, to touch, and to cohabit became verbs of difficult practicability. Being laid off from a full-time, non-artistic job that employed me for eighteen months, I was able to devote myself exclusively to creation, a largely solitary process (in contrast to the several performers, dancers and multidisciplinary artists in the group), which also became increasingly bureaucratic and less artistic, in fact. Not knowing what to expect, only what to fear, I accepted to be a celestial body, whatever that meant, along with several women artists from different countries and backgrounds. The aim was to be present, participate, listen, see, mingle, learn, teach: a residency for the sake of a residency, divided between indoor and outdoor spaces, between the south and north banks of the Tagus river, in Vale da Amoreira and Lisbon. The goal wasn’t to present a show or a performance at the end, but rather to create a safe space for being together in the feminine. Unfortunately, this feminine was merely a biological one, with no participation of trans people; still, it included racialized and queer people. Nevertheless, the residency, which started in Iceland, will continue, and as such will surely find room for a more feminist and intersectional feminine. Like almost everything, it is a matter of time.

Recently, Luís Pedro Nunes wrote in Expresso that “Women need time. And to learn to do nothing with it. Men can easily reach absolute zero. I rarely see a woman practising the noble art of non-existence”. Living intentionally is a motto that should be applied to all aspects of our lives, regardless of gender. This is, on the one hand, an obligation of each to oneself. On the other hand, the epitome of intimacy might be finding someone with whom you can and do absolutely nothing, like sharing a comfortable silence while being in the same room, without judgment, without extraneous entertainment. The greatest privilege of our time is perhaps not having to think about something, simply because it doesn’t affect us, doesn’t limit us, isn’t part of our life’s journey. One of the greatest challenges is perhaps to become closer to ourselves, in true connection and knowledge. “Ourselves” without filters, without the purpose of an audience and its demands. Throughout the residency, I found myself not writing, not taking photographs, not speaking; sometimes it took some effort, the need to show work being strong, and deep down it was what I was doing there. The experience reminded me of when I was little and went to Moita to visit my godmother and her then only son, and of her recipe for almond pie. It introduced me to the portrait of the now NBA player Neemias Queta, whose wall under construction we visited daily during the first week. It also reminded me of the only house with a garden I ever lived in, an untidy plot with fig and olive trees where I planted countless aromatic plants and flowers, and from which resulted many salads with figs, many lemonades with mint (I exchanged the figs for other friends’ lemons) and much clearing of rubble, not only of the tangible kind – plastic and bricks galore – but above all the one that occupied my mind. This was my meditation for a long time, hanging out in the backyard with my next-door neighbour’s cats, who would come over to my side to lie in the sun, which her small jungle would conceal. I won’t forget, amidst the mundane and the everyday, what one of the many talking walls we saw told me: You are God. It makes sense, in a land where a cemetery, a community garden and a soccer field peacefully coexist side by side. It makes sense, when we take our shoes off to better feel the earth and take shelter under the same sky.

According to the philosopher André Barata, “The most revolutionary thing to do is: to start stopping.” Anxiety, the disease of our century, is the result of a need, of a daily impulse to think too much about everything and everyone, questioning our choices and, above all, longing for something that is in no way in our hands. Something that might be an imposition in an oppressive capitalist workplace can, on the other hand, bring us closer to liberation in a safe space. I have a friend who often tells me that she is the oldest person I know, and she isn’t even thirty yet. She has been telling me this since we met. Still, what would it really like to be an elderly person, other than enjoying being at home, having few meals and having them early, spending time with oneself? Without major health constraints, being elderly is also being on the move, knowing that stopping would mean letting in the merciless time, the doubt, the mildew, the loneliness. At the beginning of the pandemic, one of the great discussions was about the audacity of the elderly in continuing to leave the house instead of protecting themselves and the rest of us, they who had lived through dictatorships, wars, births, deaths, plagues and other things. There was little empathy for the fact that, by staying at home, many of these people would no longer hear about one another, and would therefore lose what moved them: the social interaction, the games in public parks and the trips from start to finish in a bus or tram where you greet people by their name or by another one you affectionately assign to them, never really being wrong. Not being under the yoke of work’s impositions, not having anything to prove anymore, and above all not being one of those from whom society expects something, except eventually disappearing without making a fuss, without entailing too much work or expense, is also what allows older people to fight, still and until the end, for their independence, for their joy, for their peace, for their chosen and assigned families. As Barata also says in E se parássemos de sobreviver?: “Intimacy has its own time, one of withdrawal from exposure to the world, and therefore of suspension of exposure and displacement to places that evoke a return, like the return to an old address, the return to someone, the return to a place of return, where a beginning of meaning was made or, at least, a beginning of meaning was fixed. It is harder for his time of intimacy, of suspension, to take place today.” There is wisdom, there is revolutionary resilience in slowness, in the process, in simply knowing how to be present and allowing oneself to just be. You need to know how to find the perfect balance between doing nothing and doing too much, because you’re still addicted to showing that something is happening, to entertaining. In a conversation months ago, I heard curator Ana Cristina Cachola talk about the right to non-participation, a concept that has not left me since, and that I sometimes find difficult to claim for myself. I believe I function better when I’m stoic than when I retreat into nothingness, expecting it to solve everything for me. The secret is not spending your whole existence hanging on, surviving, because living life in fight mode is losing life itself. As the also philosopher Byung-Chul Han highlights, “The current acceleration diminishes the ability to remain: we need our own time, which the productive system does not allow us to have; we need free time, which means standing still with nothing productive to do, but this is not to be confused with a recovery time to keep on working; time worked is time lost, not time for ourselves.”

In the short story A Viagem, by Sophia de Mello Andresen, I am captivated by this passage: “– Ah! – she said – even when lost, I see how perfumed and wonderful everything is. Even without knowing if I will ever arrive, I feel like laughing and singing in honour of the beauty of things. Even on this path, not knowing where it leads, the trees are green and fresh as if nourished by a deep certainty. Even here the light descends lightly on our faces as if it recognizes us. I am filled with fear and I am joyful.” Despite the inevitability of the abyss, the stops along the way are already quite similar to where this woman and her traveling companion are headed. Even as they reach the end, she doesn’t give up trying to believe that if she calls out, someone will answer on the other side. Some activities like meditating, spending time in nature, laughing, dancing, slowing down and being in touch with our community benefit our physical and spiritual health. On the one hand, these conscious rituals that were supposed to calm us down bring us anxiety at first, because we are not producing, creating, suffering… on the other hand, as soon as they start to settle in, relief envelops and reassures us. After all, the world keeps happening and working itself out, even if we are in flight mode.

For me, the Celestial Bodies residence was a call to leave my comfort zone, myself, my home, my city. At the same time, it meant having company again for lunch every day, endless laughs and closing cycles with people who, unintentionally but because it had to be so, had crossed my path a year before, going for silent walks, having neighbourly interactions for five or ten minutes with people who live there and stop on their way to greet us and chat, as if they really cared, making an elephant out of clay, trusting someone to direct me while I dance or move freely, on the ground in the sun and breeze, with my eyes closed, letting go of shame, blushing, learning exercises and practicing them, talking and listening to people talk in several languages. To be motionless and yet, or especially, alive. And still, life.

References:

  • Andresen, Sophia de Mello Breyner (1970). Contos Exemplares. Portugália. Lisbon.
  • Barata, André (2018). E se parássemos de sobreviver? Pequeno livro para pensar e agir contra a ditadura do tempo. Documenta. Braga.