HOTEL PARADOXO / PARADOX HOTEL
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Planetário do Porto Centro Ciência Viva > Porto PT
01-19 Setembro / September 2025
Você já esteve num planetário?
A minha primeira vez foi na cidade onde nasci, no sul do Brasil, ao pé do Rio Guaíba. Quando eu era criança os planetários funcionavam com um projetor analógico no centro da sala, um equipamento que parecia uma nave alienígena fantástica prestes a descolar para uma viagem rumo ao desconhecido. Com o tempo, esses projetores foram sendo substituídos por versões digitais, mais discretas e embutidas nas paredes. Mas os planetários continuam basicamente os mesmos: são uma heterotopia, um lugar que contém outros lugares — reais ou imaginários — como os teatros, as bibliotecas, os jardins, os cemitérios, os telescópios e os espelhos. Um espaço para viajar sem realmente sair do lugar.
Desde criança, acho, que gosto de planetários, viagens e palavras como heterotopia.
Hotel Paradoxo, um projeto que acumula todos esses gostos, vem sendo escrito desde 2023 em lugares como bibliotecas, salas de ensaio, centros culturais, cafés e na mesa da sala — entre tigelas de papa, cartas de Pokémon e livros ilustrados. E finalmente, em setembro, o bravo crononauta Marco Mendonça e eu aterrámos no Planetário do Porto, para perceber se esta ideia extravagante — um monólogo teatral num planetário, entre planetas e estrelas — seria, afinal, viável. (Parece que sim.)
Então tudo indica que dentro de menos de dois meses estaremos a descolar o nosso foguetão dourado com motores quadridimensionais rumo ao algures e ao nenhures, a partir da plataforma de lançamentos do Planetário do Porto – Centro Ciência Viva. Isto, claro, se entretanto não matarmos os nossos avós, apagando-nos por completo da existência, ou se os nossos experimentos não acabarem por rasgar o próprio tecido da realidade, criando uma reação em cadeia que destrua o universo inteiro.
O que, convenhamos, é sempre uma possibilidade.
Alex Cassal
Have you ever been to a planetarium?
My first time was in the city where I was born, in southern Brazil, at the edge of the Guaíba River. When I was a child, planetariums used an analog projector in the center of the room – a piece of equipment that looked like a fantastic alien spaceship about to take off on a journey into the unknown. Over time, these projectors were replaced by digital versions, more discreet and built into the walls. But planetariums have remained essentially the same: they are a heterotopia, a place that contains other places – real or imaginary – such as theaters, libraries, gardens, cemeteries, telescopes, and mirrors. A space to travel without actually leaving.
Ever since I was a child, I think I have liked planetariums, travel, and words like heterotopia.
Hotel Paradoxo, a project that brings together all these passions, has been in the works since 2023, written in places such as libraries, rehearsal rooms, cultural centers, cafés, and at the living room table – among bowls of porridge, Pokémon cards, and illustrated books. Finally, in September, the brave chrononaut Marco Mendonça and I landed at the Oporto Planetarium to see if this extravagant idea – a theatrical monologue in a planetarium, among planets and stars – would, after all, be feasible. (It seems so.)
So everything suggests that in less than two months we will be taking off in our golden rocket with four-dimensional engines, heading both somewhere and nowhere, from the launch pad of the Oporto Planetarium – Centro Ciência Viva. That is, of course, if we don’t kill our grandparents in the meantime, erasing ourselves completely, or if our experiments don’t end up tearing the very fabric of reality, creating a chain reaction that destroys the entire universe.
Which, let’s face it, is always a possibility.
Alex Cassal



fotos ©Paulo Pereira/Planetário do Porto