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Deste-me a mão e disseste para não ter medo. Como não ter medo?
É nesta pergunta que estou agora.
O medo é um animal. Não sei de onde vem, nem que forma tem. Muda de aparência, aparece sorrateiro quando menos espero e sai-me pelos olhos e pela boca. Às vezes tira-me a respiração.
Hoje o meu medo, assim como o teu, eu sei, é um medo do futuro. Achas isto possível? Desculpa, começo a não fazer sentido.
Vou recomeçar.

AQUILO QUE HÁ-DE VIR imagina uma conversa entre um pai e uma filha sobre processos de envelhecimento e transformações no corpo e na paisagem.

Fala também sobre o direito a olhar o mar e sobre as mudanças que tornaram esse direito exclusivo ao longo dos anos.

Partindo da sensação de crise permanente que nos atinge a todos, tento perceber em que lugar se podem encontrar diferentes gerações, relembrando movimentos colectivos e acreditando na esperança como motor para a acção.

Comecei com o Jacinto Lucas Pires a inventar vozes para estas personagens. É aqui que estamos agora.

Há três referências que atravessam o trabalho neste momento (ainda sem saber como se vão materializar na peça): o documentário Continuar a Viver – Os índios da Meia-Praia de António da Cunha Telles com a famosa cena em que um grupo de pessoas muda uma casa de lugar carregando-a em braços, o livro Hope in the Dark da escritora americana Rebecca Solnit e o livro Habiter en Oiseau da filósofa francesa Vinciane Despret.

No cruzamento dos três tento descobrir modos de ler o mundo atravessados pelo afecto que possam ajudar-nos a lidar com um mundo em desaparecimento.

Paula Diogo


criação e interpretação Paula Diogo em diálogo com Jacinto Lucas Pires apoio dramatúrgico Alex Cassal espaço cénico e adereços Paula Diogo fotos Masako Hattori e Pedro Lacerda desenho de luz Zé Rui vídeo Masako Hattori (ES) produção Má-Criação e DeVIR CAPa

ESTREIA

Encontros do DeVIR, Loulé PT, Outubro 2023