SHAMPOO [autobiografia do chão] | Festival CITEMOR

SHAMPOO [autobiografia do chão] / SHAMPOO [autobiography of the floor]

de/by Renato Linhares

em diálogo com / in dialogue with Paula Diogo

Festival CITEMOR

Sport Clube de Lavos | Montemor-o-Velho PT
02 Agosto | August

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Leio que andar sem calças sobre as coisas é o destino da lesma [segundo o poeta Manuel de Barros]. No dia seguinte encontro uma lesma a deslizar pelo chão da cozinha. A passagem do pequeno animal é refletida pela luz do sol que atravessa as manhãs de inverno. O seu passado ainda brilha, poderíamos dizer. Resolvo tirar o meu velho par de patins do armário. Ao fazê-lo torna-se inevitável:

1. Deslizar sobre a memória. [Um menino que durante o banho experimenta penteados, longas tranças, coques altos, a mulher fatal, atrizes de novela, apenas com shampoo. Instantes depois, uma toalha seca e a janela aberta a dissipar a neblina do banho desfazem por completo aquele mundo paralelo.]

2. Cair. [É preciso cair em si. Somente caindo se aprende a patinar. Voltar a cair, a cair, a cair, a cair, a cair, a cair em si. E lembrar: do chão não passo.]

SHAMPOO [ autobiografia do chão ] é uma performance que acontece quando a noite cai. Sobre rodas, o coreógrafo e patinador brasileiro Renato Linhares (acompanhado pelo músico Ricardo Dias Gomes) desliza do dia para a noite, de fora para dentro de suas memórias.

Após residências em Paris (Centquatre) e Lisboa (Clube Oriental) Renato Linhares desliza para Montemor-o-Velho, para preparar a estreia desta conversa coreográfica sobre patins, tomada de fúria, empurrões, afogamentos, sopros, ou todo e qualquer impulso necessário para entrar na casa da infância, no túnel da minhoca, nos passos de uma lesma, na dureza de uma queda.


I read that walking over things without pants is the fate of the slug [according to the poet Manuel de Barros]. The next day I find a slug slithering across the kitchen floor. The small animal’s passage is reflected in the sunlight that crosses the winter mornings. Its past still shines through, we could say. I decide to take my old pair of skates out of the closet. Doing so becomes inevitable:

1. Slipping into the memory. [A boy who tries out hairstyles in the shower, long braids, high buns, the femme fatale, soap opera actresses, just with shampoo. A few moments later, a dry towel and an open window dispelling the bath mist take away the complete existence of that parallel world.]

2. Falling. [You have to fall in on yourself. You only learn to skate by falling. Fall again, fall, fall, fall, fall, fall in on yourself. And remember: I can’t get past the ground.]

SHAMPOO [ autobiography of the floor ] is a performance that takes place when night falls. On wheels, Brazilian choreographer and skater Renato Linhares (accompanied by musician Ricardo Dias Gomes) glides from day to night, from the outside to the inside of his memories.

After residencies in Paris (Centquatre) and Lisbon (Clube Oriental), Renato Linhares is on his way to Montemor-o-Velho to prepare the premiere of this choreographic conversation on roller skates, filled with fury, pushing, drowning, blowing, or any and all impulses necessary to enter the childhood home, the worm tunnel, the hardness of a fall.

@João Tuna

SHAMPOO [autobiografia do chão] é financiado por Direção Geral das Artes – República Portuguesa.