Ótimo expedientes musicais e clareza na proposta dão o tom de uma obra rebelde e formal, mas com imperioso desejo de plateia.
Perspectivas subjetivas e telúricas, ou sensíveis e abstratas, dão o tom de SUBTERRÂNEO, uma obra cuja sintaxe busca reorientar não apenas o olhar da plateia em relação às questões do tema, mas também, de maneira intuitiva e lúdica, abrir portas que revelem as questões do teatro, da performance e das teatralidades neste início de século.
Se, de alguma forma, o material procura transmitir parte da experiência dos mineiros isolados na caverna, parece justo afirmar que, nesse movimento, a obra também arquiteta um conteúdo capaz de fazer a própria plateia perceber o lugar dos criativos e das criativas, necessitando dar conta da experiência de criação de uma obra cujos vetores se mostram escuros, quase invisíveis, surgindo a partir de uma série de sensações inexprimíveis e, sobretudo, intransponíveis.
O teatro vive suas crises, o capital permanece em crise e o público, em ambos os casos, orienta-se pelo desejo de sobrevivência em meio às forças de ruptura e renovação. Sendo assim, obras acaloradas e carismáticas como SUBTERRÂNEO, capazes de movimentar os eixos da cena, das relações e do drama ou do épico, formulam uma dicção especial, rigorosa em sua despretensão e formal em suas promessas de relação ou encontro.
Márcio Tito em DEUSATEU.
fotos @Fernanda Luz/Mirada
SUBTERRÂNEO, UM MUSICAL OBSCURO tem apoio à internacionalização de República Portuguesa – Direção Geral das Artes e Fundo Cultural da Fundação GDA.