SUBTERRÂNEO, UM MUSICAL OBSCURO | UNDERGROUND, AN OBSCURE MUSICAL
de/by Má-Criação, Dimenti e Foguetes Maravilha
MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas
Teatro Brás Cubas | Santos BR
06-07 Setembro | September
Como vai ser ver o mar de novo, pela primeira vez? Mergulhar no mar, não nesta piscina de pedra, mas no mar que parece que não acaba mais? Como vai ser ver o céu estrelado à noite outra vez, pela primeira vez? Como vai ser acordar pela primeira vez fora do buraco? Vamos sentir alívio, pavor, tristeza, prazer, angústia, paz? Fazer sexo de novo pela primeira vez? Andar de metro, no meio de um monte de gente desconhecida que esbarra em nós e nem olha, outra vez, pela primeira vez? Ficar aborrecido de novo pela primeira vez, fazer tarefas banais, cumprir compromissos indesejados de novo pela primeira vez? Sentir saudades de estar aqui no buraco, pela primeira vez? Viajar de avião, pela primeira vez? Vou-me embora. Ficar aqui já não tem graça. Esta é a última noite, e acabou. Deixo o meu corpo aqui, com vocês, no fundo da terra, e vou. Vou para uma festa ao ar livre. Vou para casa. Vou para a lua. Vou para a praia. Vou transformar-me em areia. Se a água continuar a correr por este túnel durante tempo suficiente, durante algum tempo, digamos meio milhão, um milhão de anos, aqui vai-se formar uma praia de verdade, com areia macia, daria para caminhar e sentir os grãos microscópicos por baixo da sola dos pés. E mesmo aqui em baixo a influência da lua deve fazer-se sentir, haveria marés. Se esta caverna crescer o suficiente com a erosão da água, haverá vento, haverá ondas. Vamos poder ouvir as ondas subterrâneas a quebrar na areia subterrânea.
What will it like be to see the sea again, for the first time? To dive in the sea, not in this pool of stone, but in the sea that seems to never end? What will it be like to see the starry night sky again, for the first time? What will it be like to wake up for the first time out of the hole? Will we feel relief, dread, sadness, pleasure, anguish, peace? To have sex again for the first time? To ride the underground, in the middle of a bunch of unknown people who bump into us and don’t even look, again, for the first time? To get bored again for the first time, to do trivial tasks, to fulfil unwanted commitments again for the first time? To miss being here in the hole, for the first time? To travel by plane for the first time? I’m leaving. Staying here is no fun anymore. This is the last night, it’s over. I leave my body here, with you, at the bottom of the earth, and I’m going. I’m going to an outdoor party. I’m going home. I’m going to the moon. I’m going to the beach. I’m going to turn into sand. If the water keeps flowing through this tunnel long enough, for some time, say half a million, a million years, a real beach will form here, with soft sand, you would be able to walk and feel the microscopic grains under the soles of your feet. And even down here the moon’s influence should make itself felt, there would be tides. If this cave grows big enough with water erosion, there will be wind, there will be waves. We’ll be able to hear the subterranean waves breaking on the underground sand.
fotos @Estelle Valente
SUBTERRÂNEO, UM MUSICAL OBSCURO tem apoio à internacionalização de República Portuguesa – Direção Geral das Artes e Fundo Cultural da Fundação GDA.